5.6.10

SALÔES DE JOGOS




Entre os finais das décadas de 80 e durante quase toda a década de 90, rara era a zona ou povoação que não tivesse o seu salão de jogos. Local privilegiado de convívio entre os jogadores, o salão de jogos era o sítio para onde a malta nova convergia sempre que não havia aulas (ou no intervalo das mesmas), sendo paragem obrigatória nas saídas de fim-de-semana.

Recuando ao início dos anos 90, lembro-me perfeitamente das horas que passei a jogar numa máquina de flippers, chamada Dona Elvira, onde uma simples moeda de 25 escudos poderia ser o suficiente para uma tarde bem passada. Outra saudosa máquina era a Daytona USA. Recordo-me que na pista mais longa, existiam curvas que tinha de ser feitas passando de uma quarta para a primeira, coisa perfeitamente impensável no mundo real; Aquilo é que eram emoções… Lembro-me de Street Fighter II, Tekken, Snow Bros, Sega Rally 1 e 2, os flippers de Indiana Jones, enfim, a lista é imensa, sempre carregada de profunda nostalgia.



E claro, como muitos de vocês já devem ter pensado, havia o snooker. Bem, as horas que perdi a jogar snooker… Em retrospectiva, se fizer um daqueles exercícios de auto comiseração, chegaria à conclusão de que se tivesse aproveitado esse tempo para me aplicar na escola, teria com toda a certeza obtido um grau académico daqueles graúdos, as tais que fazem chorar os pais de orgulho. O gosto pelo snooker levou-me a disputar partidas que chegaram a resultados de 19 – 17 ou 23 – 21, e a contas de quase 2 contos de reis, o que para a altura era uma soma considerável (principalmente para quem era estudante).




Actualmente, salvo raras excepções, esses estabelecimentos ou fecharam, ou estão às moscas. Mesmo aqueles que ainda têm algum movimento, transmitem uma imagem bastante pálida dos tempos de outrora, onde os ajuntamentos gerados pelo hipnotismo das máquinas mais concorridas não passam de histórias contadas pelos mais velhos.


Em primeiro lugar, a partir de uma certa altura começou a desaparecer o fosso tecnológico existente entre as máquinas de salão e as consolas. Quando Sega Rally 2 apareceu no salão da minha localidade, os gráficos que o jogo apresentava eram completamente imbatíveis relativamente às alternativas domésticas. Na altura, as primeiras tentativas de recriar esse desporto automóvel no PC, não passavam de produtos de quinta categoria, sem qualquer hipótese perante esse colosso das arcades. Mais tarde, recordo-me perfeitamente de uma conversa que tive com um possuidor de uma PS1, em que o mesmo me revelou que a versão de Tekken que tinha em casa era em quase tudo semelhante à versão da máquina em que eu jogava naquele preciso momento. Apesar de algum cepticismo da minha parte (nunca cheguei a comprar a primeira Playstation), o futuro veio confirmar que essa foi uma tendência que nunca mais se inverteu. Com o lançamento e massificação da PS2 e o consequente alargamento do seu catálogo, o golpe de misericórdia estava dado, sendo impossível às arcades recuperarem o protagonismo perdido.


Em segundo lugar, com a chegada da consola, o consumidor apercebeu-se do grande desequilíbrio existente na relação custo/benefício entre as duas soluções. Enquanto que em casa, mesmo comprando um jogo por 50/70 euros, não existem limites em relação ao tempo de jogo, nas arcades, o tempo que uma moeda nos permite jogar está directamente relacionado com a perícia de cada um. Se tivermos em linha de conta que essa perícia só é adquirida após um certo investimento, parece-me claro que os jogos de sofá saem claramente vencedores nesta disputa.

Em terceiro lugar, com o desaparecimento da clientela, os proprietários das máquinas deixaram de investir nas arcades mais elaboradas, aquelas que, a título de exemplo, tinham vários ecrãs e dispunham de movimento. Máquinas desse género, devido ao avultado investimento, deixaram de ser viáveis, pelo que esse apelo por experiências que, por motivos óbvios, seriam impraticáveis no conforto do lar, pouco a pouco, deixou de existir.



Em quarto lugar, o facto de termos dentro de casa, uma alternativa à experiência que procurávamos no salão de jogos, veio introduzir uma variável importantíssima no confronto entre as duas partes em disputa: A necessidade de nos deslocarmos. Se considerarmos que mesmo quem viva ao lado de um estabelecimento do género, pensará duas vezes antes de sair de casa propositadamente para jogar, imaginem quem tiver de obrigatoriamente usar transporte. Neste caso, o “comodismo” que todos ganhamos com o avançar da idade é determinante na hora de decidir.


Em quinto e último lugar, com o evoluir das redes sociais e a disseminação dos telemóveis, a importância do salão de jogos como ponto de encontro entre amigos praticamente desapareceu, desaparecendo dessa forma aquela clientela que, embora não indo lá para jogar, quando em espera sempre se entretinha a experimentar qualquer coisa.


Apesar do quadro negro, os proprietários lá foram resistindo como podiam. Uma das medidas foi a instalação de computadores em rede, fornecendo jogos e internet pagos à hora. Mas mais uma vez o caminho do progresso acabou por ser implacável. Com a banda larga a preços acessíveis e o aparecimento de consolas que lutam de igual para igual com a maioria dos computadores, o efeito novidade desvaneceu-se e o retorno aos dias de amargura foi inevitável. Como último apelo, restam as mesas de snooker, já marcadas pelas pontas de cigarros, como últimas representantes de um período dourado.
Com o aparecimento das grandes superfícies comerciais, um novo conceito surgiu. Refiro-me, neste caso, aos PlayCenters. Dotados das máquinas mais dispendiosas, e repletos de soluções para todos os gostos (o do Colombo até tem uma pequena montanha-russa), estes “concentrados” do divertimento pecam pela total falta de alma, oferecendo uma experiência sem qualquer carisma onde o intimismo que existia no nosso salão de juventude nunca é atingido.

Definitivamente, os salões de jogos, como muitos de nós os conhecemos, são uma verdadeira espécie em extinção. Salvo uma excepção ou outra, essas antigas glórias são agora ecos na memória de quem por lá passou. Será possível que tais locais tornem a reaparecer? À medida que todos nós avançarmos para a terceira idade, até que ponto a solidão contribuirá para o renascimento dessas comunidades? Nestes tempos que agora vivemos, é usual encontrarmos os reformados em convívio nos jardins, ou em outros locais públicos, a jogar os seus jogos de eleição, tais como as cartas e as damas.

Poderão os salões de jogos reencontrar o seu protagonismo, oferecendo-nos a todos nós, daqui a uns anos, a oportunidade de reencontrarmos parte da nossa juventude?

Publicado por:João Pessoa "WormPT"
em: http://www.xboxteamportugal.com

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